quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Por que Mala de Mão? Por que Roroquinha?

Mala de mão era como meu pai me chamava porque eu só queria estar com ele, principalmente naqueles momentos mais inoportunos, quando tudo que os pais menos querem é saber dos filhos sob sua responsabilidade.
Na verdade eu acho que, como toda criança (ou a maioria delas) eu era metida e queria estar no meio das pessoas ditas “importantes”. Se meu pai estivesse conversando com prefeito, deputado, vereadores, era para o colo dele que queria ir.
Isso é minha mãe que me conta. Não lembro de muita coisa. Exceto uma vez que ele quis jogar baralho no bar (o que normalmente ele fazia muito em casa) e quis porque quis ir com ele – e fui. Não me pergunte detalhes dessa tarde, porque eu não vou lembrar, como não lembrarei detalhes de muitas coisas nas quais ele, meu velho pai, estava presente.
Dos cinco anos e meio em que convivi com meu pai tudo o que sei é de ouvir falar. Minha mente criou uma espécie de bloqueio entre aquele dia 3/6/1984 e o passado. Daquele dia sei tudo, desde a casa quase vazia pela manhã, ao doloroso momento de sua morte, com a casa enchendo de pessoas, o velório e o sepultamento.
Não lembro com tristeza é só saudade. Talvez certa frustração por termos ficado tão cedo sem ele.
Roroquinha é o diminutivo de “roca” (de saroca), como minha mãe me chama. É também como meu irmão mais velho costuma me chamar, principalmente quando está bebendo...
Minha mãe é essa pessoa, como todas as mães, incapazes de ser descrita em palavras. Uma mulher frágil, que se transformou numa leoa para criar os 5 filhos. Minha mãe é a expressão real da dedicação aos filhos.
Lembro da tristeza quando meu irmão não fez o vestibular porque não tinha o dinheiro pra inscrição. Ela chorou.
Lembro quando ela recebeu, depois de mais de um ano, a primeira pensão do meu pai, foi a primeira vez depois que ele morreu que ela comprou biscoito e refrigerante.
Lembro principalmente quando fui atropelada aos seis anos e minha mãe passou a noite acordada no hospital "espatando as muriçocas" que não me deixavam dormir.

Lembro quando recentemente operei o tendão de aquilles e minha mãe, mesmo cansada, levantava à noite para me levar ao banheiro.
Lembro de todas as vezes que precisei e preciso de qualquer coisa como ela fica preocupada e não sossega enquanto não consegue me ajudar.

Lembro quando mudei para Salvador do quanto ela me ouviu chorar e me incentivando a permanecer no trabalho e tentar me acostumar.
Eu sempre choro quando falo sobre isso e estou chorando agora quando escrevo. Não é que eu me sinta triste com o meu passado. Muito pelo contrário, eu acho que foi importante passarmos por tudo isso para que hoje valorizássemos o que há de mais importante em nossa família: a união.
Mãe nos ensinou que só com respeito e união podemos ser felizes. Não importa o quanto você tem em dinheiro. O que importa é quem você tem para celebrar.
É muito graças a esses ensinamentos que podemos nos reunir nos aniversários, no Natal, no São João, no Réveillon! Não importa onde estamos, o importante é estarmos todos juntos e disso fazemos questão!
Mala de mão e Roroquinha em homenagem aqueles que me deram a vida.
Meu pai, que foi embora tão cedo. Minha mãe, que me fez quem sou!

Um comentário:

  1. É... Nao custa nada comentar. Até por que comento no msn, ao telefone... Mas quero dizer que também sempre me emociono quando ouço vc falar sobre a história do biscoito com refrigerante. Aquele biscoito com o doce no meio que Quinho gosta tanto. Sabia que adoro ser da sua família? Adoro saber de coisas que só a família sabe. Adoro conhecer ter intimadade com cada um de vcs. POr isso, faço questão de ser a primeira a comentar, lhe dar as boas vindas aqui na blogosfera e dizer que sou grata pela sua amizade, por termos vividos muitos momentos juntas e termos histórias pra contar aos nossos filhos e netos. Sei que "não preciso nem dizer, tudo isso que hoje eu digo, mas é muito bom saber, que você é 'minha amiga'".

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